Por Oliver Tan Oh
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29 de maio de 2024
Governança corporativa é frequentemente interpretada como um tema restrito às empresas de capital aberto. Contudo, a popularização do E.S.G (acrônimo para Environmental (ambiental), Social e Governance (governança)) vem alterando esta percepção junto a um grupo cada vez maior. Este artigo é dirigido aos acionistas e líderes de PMEs que buscam refletir sobre como o sistema de governança pode contribuir com a forma que dirigem, monitoram e incentivam suas empresas e, assim, promover um novo rumo no curto, médio e longo prazos, para: ● Otimizar o valor econômico; ● Facilitar o acesso a recursos; ● Aprimorar a qualidade da gestão; ● Promover a sustentabilidade do negócio; ● Potencializar o impacto positivo junto à sociedade. Para que tais benefícios se concretizem, o Código das Melhores Práticas de Governança Corporativa (5ª Edição do IBGC, págs .20 e 21) destaca quatro princípios básicos a serem praticados, resumidos a seguir: 1. Transparência das informações relevantes junto aos distintos grupos que contribuem com o resultado do negócio ou que por este são impactados (stakeholders): clientes, acionistas, funcionários, fornecedores, sociedade, defensores do meio ambiente e Estado; 2. Equidade ao tratar cada stakeholder com justiça e isonômia levando em consideração seus direitos, deveres, necessidades, interesses e expectativas; 3. Prestação de contas por parte dos agentes da governança. Deve ser realizada de forma clara, concisa, compreensível e temporânea, sempre assumindo integralmente a responsabilidade pelos seus atos e omissões; 4. Responsabilidade Corporativa dos integrantes de conselhos, comitês e da gestão. Engloba zelar pela viabilidade econômico-financeira da organização, reduzir as externalidades negativas e aumentar as positivas resultantes das atividades da empresa, considerando no seu modelo de negócio as seis categorias de capitais: financeiro, humano, manufaturado, natural, intelectual e social. CATEGORIAS DE CAPITAIS As seis categorias de capitais são descritas no INTEGRATED REPORTING in the Public Sector (publicado pelo CIMA - Chartered Institute of Management Accounts, p.6) que embasa as definições transcritas abaixo: 1) FINANCEIRO é o total dos recursos financeiros que está disponível para o negócio, sendo proveniente da própria operação, de investimento dos sócios e/ou financiamentos/linhas de crédito; 2) HUMANO são as competências (conceitos e procedimentos), habilidades (práticas cognitivas e socioemocionais) e atitudes (motivação e valores) que cada pessoa tem para inovar, incluindo: ✔ Aderência aos princípios da cultura da empresa, à abordagem de riscos e às regras de governança, com honestidade; ✔ Habilidade para compreender, desenvolver e implementar as estratégias da organização; ✔ Lealdade e motivação para aprimorar e inovar processos, bens e serviços, incluindo a capacidade de relacionamento interpessoal para colaborar, liderar e gerenciar. 3) MANUFATURADO são os bens tangíveis que sofreram alguma industrialização. Por exemplo: insumos, equipamentos e instalações; sejam eles produzidos por terceiros ou fruto de produção interna da organização que os reteve para uso próprio. Também fazem parte os capitais das infraestruturas externas, tais como: vias, pontes, portos, serviço de água e esgoto, energia elétrica e comunicações. Importante destacar que não fazem parte do capital manufaturado os recursos que estão no estado provido pela natureza. 4) NATURAL é composto por recursos naturais (renováveis ou não) captados pela empresa para serem consumidos e/ou empregados no processo de produção de bens e/ou prestação de serviços, como por exemplo: água, luz solar, minerais, terras produtivas, florestas, animais, biodiversidade, ar limpo e outros recursos ambientais. 5) INTELECTUAL são os conhecimentos que geram valor. Inclui: ● propriedade intelectual (patentes, direitos autorais, software, licenças e outros direitos regulamentados); ● capital organizacional (conhecimento tácito, sistemas, procedimentos e protocolos); ● as marcas e a reputação da empresa junto aos clientes e demais stakeholders. 6) SOCIAL resulta das redes de relacionamento construídas a partir da interação das pessoas que compõem a empresa, entre si e com os stakeholders externos para melhorar o bem-estar individual e coletivo. Este capital inclui: ● normas, princípios e comportamentos comuns; ● relacionamentos com os stakeholders e a confiança e disposição de engajamento que a organização desenvolve e se esforça para construir e proteger junto a: clientes, fornecedores, parceiros de negócios e outras partes interessadas externas; ● a licença social para a organização operar. Quando negligenciada, pode determinar o fechamento de unidades da empresa, boicote dos consumidores à marcas e até mesmo à categorias de produtos. Um exemplo que ganhou destaque na mídia é a polêmica quanto ao trabalho escravo nos campos de algodão em Xinjiang, na China. Enquanto marcas ocidentais que atuam globalmente excluíam da sua cadeia de suprimento o algodão dessa região da China para atender a demanda humanitária dos consumidores da UE e EUA, formadores de opinião e consumidores chineses boicotavam essas marcas. Ambos os lados com apoio de governos. CONSTRUINDO UNICIDADE Se o exposto até aqui parece útil para responder as demandas que você e seu time enfrentam, então a governança contribuirá com os novos rumos do seu negócio. Esta nova etapa demandará uma gestão mais participativa, ampliando os espaços e canais para pessoas de diferentes grupos contribuirem com o desenvolvimento do negócio. Portanto, antes de montar um conselho de administração ou consultivo e/ou comitês, com a participação de funcionários e até mesmo stakeholders externos, é relevante revisar, formalizar e comunicar o propósito, os princípios, e o pensamento estratégico – elementos-chave na construção da unicidade direcional do desenvolvimento do negócio. Propósito é a motivação para a pessoa empreender e/ou participar da construção de um negócio que serve a necessidade específica de um público, provendo produtos e/ou serviços que têm seu valor reconhecido pelos stakeholders. A comunicação do propósito deve ser clara, concisa e ter unicidade junto a todos os públicos. Princípios são as regras a serem respeitadas por todos, sem exceção, promovendo a previsibilidade e a reputação junto aos stakeholders internos ou externos. Por último, compartilho que “Uma boa estratégia é aquela que reconhece a natureza do desafio e oferece um meio de superá-lo”. Portanto, “O núcleo de trabalho de uma boa estratégia é descobrir os fatores críticos em uma situação e conceber um meio de coordenar e focar as ações para lidar com esses fatores. A responsabilidade mais importante de um líder é identificar os maiores desafios para o avanço e desenvolver uma abordagem coerente para superá-los” (RUMELT, 2011, pág. 2 e 3). ANTES DE INICIAR Identifique a atual aderência da gestão aos princípios da governança. Quais já estão em uso, o grau de formalidade, de participação de executivos e outros stakeholders e os impactos positivos. Quais faltam e já prejudicam o negócio e quais ainda não afetam o resultado. Uma vez reconhecidos, será mais fácil potencializar os pontos fortes, gerir as fraquezas, priorizar as oportunidades e minimizar os possíveis efeitos das ameaças. O objetivo é obter sucesso com um plano adequado à realidade da empresa. Espero que este artigo contribua com a sua missão de tecer novos rumos e desejo que a prosperidade seja cada vez mais a marca da sua liderança!